Em que tempos estamos vivendo?
03 de fevereiro de 2025, segunda
Podemos Como podemos definir o tempo em que estamos vivendo? O racionalismo da modernidade entrou em crise, mas o que veio depois? Há muitas respostas para essas perguntas, sob diversas perspectivas, nem sempre convergentes.
A Filosofia, por exemplo, apresenta reflexões sobre a era da hipermodernidade, do pós-moralismo e da sociedade da decepção, conforme as categorias definidas por Gilles Lypovetsky, além da teoria da complexidade formulada por Edgar Morin. Na Sociologia, emergem concepções como a modernidade líquida, de Zygmunt Bauman, e a sociedade em rede, de Manuel Castells.
Nas últimas décadas ocorreram transformações profundas no mundo e na própria percepção da realidade. As inovações tecnológicas e os novos meios de comunicação alteraram nossa relação com o corpo, a cultura, a religião e até com Deus.
Impactos da pós-modernidade na fé
Podemos identificar duas leituras principais sobre a realidade contemporânea e sua influência no âmbito da fé. Para alguns estudiosos essa “pós-modernidade” feriu três aspectos vitais da identidade religiosa: imaginação, memória e sentido de pertença.
A imaginação pode ser reduzida à superficialidade. A memória pode ser sufocada pelo imediatismo. E o sentido de pertença pode ser atropelado pelo ritmo frenético da vida cotidiana. Há certa ausência de repouso e de raízes que induz a uma paralisia interior, apesar de todo frenesi exterior.
Esse cenário cria uma aparente contradição: ao mesmo tempo em que as pessoas estão cada vez mais conectadas digitalmente, estão menos conectadas consigo mesmas. O excesso de estímulos ao nosso redor dificulta o tempo necessário para o silencio, a reflexão e o discernimento. Quando o desejo se torna cego e o afeto perde a dimensão do compromisso, até mesmo a religião pode se reduzir à mera atenção ou a um mero objeto de consumo, guiado pela lógica de mercado.
Uma nova abertura espiritual
Por outro lado, há quem faça uma leitura mais positiva da situação. Esse momento de crise do progresso e da racionalidade exagerada pode levar a uma consciência diferenciada em direção a uma nova espiritualidade. Levar a um despertar espiritual e a uma maior valorização da comunidade.
Entendemos, ainda, que é preciso ter uma postura equilibrada. Ou seja, não rejeitar completamente a cultura contemporânea, mas tentando moldá-la à nossa visão ideal. Assim como não podemos ignorar os desafios éticos que essa nova realidade impõe.
Como cristãos, somos chamados a discernir os acontecimentos e reconhecer os sinais da presença de Deus. Conforme a constituição pastoral Gaudium “Compete-nos, discernir os acontecimentos, nas exigências e nas aspirações de nossos tempos […], quais sejam os sinais verdadeiros da presença ou dos desígnios de Deus.” (Gaudium et Spes n.1).
Vivemos um tempo único e irrepetível. Tudo depende da forma como nos posicionamos diante da realidade. Abrir os olhos, cultivar o pensamento crítico, escutar os sinais e perceber Deus em meio aos conflitos humanos – isso é buscar a sabedoria da vida em meio aos revezes de todos os tempos.
Dom Leomar Brustolin
Arcebispo de Santa Maria (RS)
Fonte: Cnbb
https://www.cnbb.org.br
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