Futuro sacerdote chinês fiel à Igreja relata drama de católicos em China

22 de agosto de 2013, quinta Futuro sacerdote chinês fiel à Igreja relata drama de católicos em China

Apesar da perseguição que vive a Igreja católica em China, ainda nascem vocações ao sacerdocio e à vida religiosa em fidelidade à Igreja de Roma; um destes casos é o de John Tai -nomeie fictício para evitar represálias do Governo comunista-, que como outros tantos sacerdotes chegam a Espanha para estudar os anos de Filosofia e Teologia.

"A situação da Igreja em China é muito complicada porque sabes que há duas ou inclusive três. Está a Igreja clandestina, a Igreja perseguida. A meu me agrada chamá-la 'Igreja fiel', é o termo que acerta mais", afirma Tai. Além da igreja patriótica, controlada pelo Governo que segundo conta John tem as características de autorganización e independiencia: "É como um cisma, ainda que ainda não chegou a tanto, mas si que tenta cortar a relação com a Santa Sede".

Mas segundo conta John há outra Igreja. "Há lagoas entre dioceses e bispos que levam dois reconhecimentos. Foram eleitos pelo Governo, mas contam com o consentimento do Papa. Estes bispos, por qualificá-los de alguma maneira, são como cinzas". E nesse sentido o futuro diácono explica que "estes bispos costumam sofrer muito porque não têm a consciência calma, o Governo os tem na mão e também querem ser fiéis à Igreja porque têm a fé de que pertencem à Igreja de Cristo, por isso sofrem muito".

John Tai assegura que sua vocação é "fruto das orações". "Desde que era muito pequeno minha mãe me levava a uma casa todos os dias às 4.20 da madrugada para rezar ali, porque estava o Santísimo exposto, junto com um grupo de senhoras que ainda hoje seguem reunindo-se, todos os dias rezam especialmente pelos sacerdotes e pelas vocações", conta o futuro sacerdote.

John Tai ingressou num seminário menor clandestino faz alguns anos e assegura do que "em China precisamos a Cristo". Recorda as três vezes que foi levado à delegacia durante esse tempo "por ser testemunha da fé". "Na delegacia, uma das vezes estive retido dois dias. Ali me interrogaram, e me ensinaram um mapa que estava escondido numa cortina. Estavam perfeitamente localizadas todas as igrejas, todos os templos budistas e de todos os pontos de encontro dos protestantes", conta.

"Durante o interrogatório ao princípio não contestava. Até que os polícias me disseram que sabiam todos nossos movimentos. E começaram a dizer-me de cor a epacta da liturgia. 'Eu poderia ser um de teus professores do seminário', disse-me um dos polícias para fazer-me duvidar de meus próprios formadores. Ao que lhe contestei: 'Se você sabe tudo, por que me o pergunta?' E como não tinha idade suficiente para impor-me nenhuma pena, deixaram-me livre", recorda John.

"O governo chinês sabe onde estamos os católicos fiéis a Roma mas não quer acabar conosco. Querem que a Igreja fiel à Santa Sede e a Igreja patriótica existam e se briguem entre elas, para que nenhuma seja potente e se debilitem entre si", explica.

John pede orações para que os católicos ali possam ser testemunhas do Evangelho, mas "não só os católicos de China, senão em todo mundo. Os católicos temos que ser testemunhas de nossa fé".

Exemplo de testemunhas da fé foram -entre outros muitos- os dois últimos Bispos da diocese da que prove Tai. Ambos foram encarcerados pelo Governo chinês por permanecer fiéis à Santa Sede. De fato, segundo conta John, faz 16 anos foi encarcerado o atual Bispo da diocese e desde então não se teve notícia dele. "Não sabemos nada dele, correm rumores de que faleceu, mas não recebemos seu cadáver, assim que não podemos sabê-lo. Nossa diocese é uma das mais perseguidas", afirma John.

Apesar de tudo, John olha o futuro dos católicos chineses fiéis a Roma com esperança. Mostra disso é a recente ordenação de outro diácono em Espanha que voltará a China para ser testemunha como sacerdote fiel à Igreja católica de Roma. Igual que daqui a pouco fará John Tai, que regressará a seu país para ser sacerdote de Jesucristo, fiel à Igreja de Roma para os católicos de China.