Tecnologia e formação do pensamento crítico, por Dom Oriolo

18 de agosto de 2025, segunda Tecnologia e formação do pensamento crítico, por Dom Oriolo

Estamos vivendo na era digital, na qual a tecnologia permeia todos os aspectos da nossa história salvífica. Em todos os lugares, encontramos sites, blogs e plataformas digitais que, por um lado, têm o potencial de ajudar as pessoas e a sociedade de maneira incrível. A inteligência artificial está trazendo incontáveis benefícios e melhoria à vida das pessoas. Dispositivos como Amazon Alexa, Google Assistent e Apple Siri ajudam usuários ao responder perguntas, definir lembretes e fornecem informações em tempo real.

Mas, por outro lado, a tecnologia digital está contribuindo para o declínio da capacidade do ser humano de pensar e refletir à luz da revelação judeu cristã, do direito romano e da lógica de Aristóteles. Não nos preocupamos mais em guardar ideias, estudos, conceitos, formações, definições e realidades. Hoje, já não memorizamos mais números de telefone, endereços ou localizações, pois confiamos nos dispositivos digitais que fazem isso por nós. Da mesma forma, não nos preocupamos em nos lembrar de compromissos ou agendas, já que os lembretes automáticos assumem essa função.

 Atualmente, temos acesso a uma quantidade quase ilimitada de informações, o que permite que o ser humano se eduque e aprenda de forma mais fácil e acessível. Para que isso aconteça, as redes sociais nos apresentam rapidamente uma variedade de formatos como textos, imagens, vídeos e áudios.

No entanto, essa veloz variedade pode nos levar a um desastre cultural, pois ao mesmo tempo que estamos potencializando nossa maneira de pensar, estamos caminhando para uma infantilização do pensamento. Como resultado, muitas vezes não conseguimos mais lidar com textos longos, vídeos informativos, discussões complexas ou sustentar conversas que exigem um raciocínio mais profundo e encadeado.

Na Holanda, está se recomendando oficialmente que as crianças e adolescentes menores de 15 anos não utilizem redes sociais como TikTok e Instagram. Essa medida, embora não seja uma proibição, reflete a preocupação do governo com os efeitos nocivos dessas plataformas na saúde mental dos jovens. Uma abordagem diferente foi tomada pelo governo brasileiro ao sancionar lei que restringe o uso de celulares nas escolas de educação básica (educação infantil, ensino fundamental e médio). A medida busca melhorar a concentração dos alunos e combater problemas de saúde mental relacionados ao uso excessivo dos écrans virtuais.

 Segundo o historiador Yuval Noah Harari, a crença popular de que a informação leva automaticamente à verdade, e essa ao poder e à sabedoria, é uma simplificação perigosa na era digital. Em seu livro Nexus, ele adverte que a relação entre informação e verdade não é tão direta. Há a possibilidade de cometermos erros honestos ao processar dados, e o perigo de sermos intencionalmente enganados por pessoas que agem com más intenções, movidas por ganância ou ódio. Dessa forma, a informação pode, na realidade, nos conduzir ao erro em vez de à verdade. Além disso, Harari questiona a sabedoria com que usamos o vasto conhecimento adquirido. Mesmo que tenhamos acesso a redes de informação gigantescas e precisas, que nos revelam verdades importantes, não há garantia de que as novas capacidades e o poder que surgem, serão utilizados de forma sábia, ponderada e em vista do bem comum.

Diante do paradoxo da era digital, onde a tecnologia nos capacita e ao mesmo tempo ameaça a nossa capacidade de pensar profundamente, a figura dos formadores de opinião se torna crucial. Em meio a um fluxo incessante de informações que podem tanto levar à verdade quanto ao erro, e a uma crescente infantilização do pensamento, é essencial que existam vozes que guiem a sociedade. Os líderes de opinião precisam não apenas desmistificar a crença de que toda informação é verdadeira, mas também modelar a sabedoria na prática, mostrando como usar o conhecimento adquirido para o bem. O desafio para essas pessoas é imenso, elas devem combater a superficialidade imposta pela velocidade das redes sociais e promover uma reflexão crítica, incentivando o público a ir além dos títulos e dos vídeos curtos, para que a nossa essência como seres pensantes, feitos à imagem e semelhança de Deus, não seja ofuscada pelo avanço tecnológico.

Dom Oriolo
Bispo da Igreja Particular de Leopoldina MG

Fonte: Vatican News
https://www.vaticannews.va