São Félix de Nicósia: o frade que nos ensina o valor das pequenas coisas

02 de junho de 2025, segunda São Félix de Nicósia: o frade que nos ensina o valor das pequenas coisas

Neste dia 2 de junho, a Igreja celebra São Félix de Nicósia, um humilde frade capuchinho do século XVIII que, com simplicidade e firmeza espiritual, tornou-se exemplo vivo de caridade, obediência e amor profundo a Deus. Nascido em 1715 na cidade siciliana de Nicósia, Itália, recebeu no batismo o nome de Filippo Giácomo Amoroso. Desde jovem, demonstrava forte desejo de consagrar sua vida a Deus. No entanto, sendo analfabeto, não pôde tornar-se clérigo e teve seu pedido de admissão na Ordem dos Frades Menores Capuchinhos recusado por oito anos consecutivos.

Persistente e confiante na vontade divina, finalmente foi aceito como irmão leigo no convento de Mistretta. Em 10 de outubro de 1774, fez sua profissão perpétua e, em seguida, foi enviado ao convento de sua cidade natal, onde viveu até sua morte. Durante grande parte de sua vida religiosa, São Félix exerceu o ofício de esmoleiro. Diariamente percorria as ruas de Nicósia, batendo à porta dos ricos para pedir auxílio aos necessitados, e à dos pobres para oferecer consolo e apoio. Com isso, tornou-se elo de comunhão entre classes sociais, aproximando corações e encurtando distâncias com sua presença fraterna.

Seu testemunho mais eloquente, porém, vinha de sua atitude diante de cada situação: ao ser recebido com generosidade ou ao ser rejeitado com indiferença ou insulto, sua resposta era sempre a mesma e carregada de fé: “Seja por amor de Deus”. Esse gesto, simples mas profundo, refletia sua íntima união com Cristo. Mesmo sem saber ler ou escrever, São Félix absorvia com atenção as Sagradas Escrituras e os ensinamentos dos mestres espirituais que ouvia no convento. Com memória aguçada e coração aberto, fazia da escuta uma escola interior, capaz de iluminar muitos que dele se aproximavam.

Devoto fervoroso da Eucaristia, passava longas horas em adoração diante do Sacrário. Tinha ainda grande amor por Nossa Senhora das Dores — cuja imagem carregou junto ao peito por três décadas — e meditava com frequência a Paixão de Cristo, rezando com os braços cruzados em sinal de reverência. Sua espiritualidade era profundamente encarnada: unindo contemplação e serviço, São Félix sabia que colocar Deus em primeiro lugar era o segredo para que tudo mais encontrasse sentido.

Reconhecendo a pureza de sua entrega, Deus lhe concedeu dons extraordinários, como o da cura de enfermidades do corpo e da alma, além do dom da bilocação, com o qual pôde atender a mais pessoas em diferentes lugares ao mesmo tempo. Sua fama de santidade cresceu ainda em vida, mas foi após sua morte, em 31 de maio de 1787, que sua história começou a se espalhar com mais força. Beatificado em 1888 pelo papa Leão XIII, foi canonizado em 23 de outubro de 2005 pelo papa Bento XVI.

Durante a homilia da canonização, o papa destacou: “Este humilde frade capuchinho, ilustre filho da terra da Sicília, austero e penitente, fiel às mais genuínas expressões da tradição franciscana, foi gradualmente transformado pelo amor de Deus, vivido e concretizado no amor ao próximo”. Segundo Bento XVI, São Félix nos ensina a descobrir o valor das pequenas coisas que enriquecem a vida, a reconhecer o dom do serviço aos irmãos e a entender que a verdadeira alegria nasce do amor.

A vida de São Félix de Nicósia permanece como um convite permanente à humildade, à escuta atenta e à doação desinteressada. Em tempos marcados por pressa e busca de grandezas, ele nos recorda que Deus age no simples, no escondido, e que a santidade pode florescer na rotina cotidiana, quando cada gesto é oferecido “por amor de Deus”.