A experiente em filosofia Gabriella Gambino escreveu esta semana um artigo na seção “Mulher”, do Pontifício Conselho para os Laicos, oferecendo conselhos para ajudar aos esposos a conseguir um casal exitoso.
No texto, titulado “O poder da fidelidade conjugal”, Gambino assinala que a clave está em basear o casal na fidelidade baseada em Deus, isto é “o amor é estável e fiel porque é sustentado pelo amor de Deus”, afirma.
“Não é casualidade, como recordou recentemente também o Papa Francisco na Lumen fidei, que na Bíblia a fidelidade de Deus é indicada com a palavra hebréia 'û#nah (do verbo 'amàn), que em sua raiz significa “sustentar”. Compreende-se assim por que o efeito da fidelidade é a possibilidade de construir a relação conjugal verdadeiramente sobre a ‘rocha’”, explica.
A fidelidade “é a atitude de coerência e de constância na adesão a um valor ideal de amor, de bondade, de justiça; mas também pode ser entendida como o compromisso com o qual uma pessoa se vincula a outra com um vínculo estável e mútuo”, e encontra “seu mais perfeita expressão humana na fidelidade entre cônjuges, através da exclusividade e unicidade da relação amorosa consagrada no casal”, assinala Gambino.
Segundo Gambino, o secularismo da época moderna dá a incapacidade de compreender o “extraordinário poder humanizante deste valor, capaz de realizar plenamente as dimensões ética e espiritual da pessoa que, quando é fiel, pode viver de modo coerente verdade e liberdade, verdade e amor”.
Gambino, quem ensina filosofia na Universidade de TorVergata de Roma, explica que esta tendência procede da revolução sexual do século passado, que estendeu um questionamento geral dos valores tradicionais do casal produzindo uma fratura radical entre sexualidade e casal, e sentando as bases para uma sexualidade fluída e reduzida à dimensão do prazer, “que priva a relação de amor conjugal da capacidade de ser fiéis à pessoa amada”, lamenta.
Gambino sustenta que entre o enamoramiento e o amor fiel, há alguns passos que o casal deve aprender a dar até chegar a oferecer-se a si mesmos numa esfera muito maior a si mesmos, “uma atmosfera na que seu amor recíproco poderá respirar e viver, nutrindo-se da liberdade recíproca e a vontade de ser fiéis a este amor para sempre”, descreve.
“Para compreender mais de perto a estruturação antropológica da dinâmica da fidelidade no amor, é necessário partir da idéia de que a dinâmica afetiva, como processo de enamoramiento da pessoa (aprender a amar), passa através de alguns níveis que se entrecruzan num processo de maturação que exige um compromisso pessoal crescente”.
Precisamente “no cônjuge encontra o instrumento para portar juntos o mesmo ‘jugo’, mantendo o mesmo passo, no curso de sua existência”, adiciona.
Por outro lado, a autora explica que o casal nunca é sinônimo de perder a liberdade, por que –segundo explica-, a liberdade “não é busca do prazer, sem chegar nunca a uma decisão, senão que é capacidade de decidir-se por um dom definitivo e exclusivo. Somente quem pode prometer para sempre demonstra ser dono do próprio futuro, tem-o entre suas mãos e o doa à pessoa amada”.
“Se compreende assim por que o conteúdo da fidelidade é a confiança: confiança no futuro e no outro, ao que se faz o dom de si. Ao invés, o que paralisa e escraviza é o temor de comprometer-se: no fundo, priva da liberdade e da capacidade da razão de seguir o coração”, conclui.